22 dezembro 2006

de respostas

as respostas às vezes não servem pra nada
às vezes são o que precisamos - aqueles que respondem
às vezes eles precisam - a quem se encaminha a resposta
mas o melhor é o silêncio
a não-palavra como resposta é o melhor de uma resposta completa
a não-palavra e instante-agora-já
é experimento, é sentido, mas não é entrelinha
é nada
a melhor forma de retrribuir o presente e dizer:
... - não precisa de palavra escrita ou falada.
precisa, sim, de palavra pensamento

20 dezembro 2006

eu peciso dizer que te amo

"eu só preciso dizer que te amo, te ganhar, te perder sem engano"

eu quero ouvir as histórias da sua boca e mirar teus olhos tão profundamente que eu entre na história e me sinta caio, e caio num abismo sem fim de ternura e desapego e rejeição e um não amar. me conta qual é teu mistério, clarice? do que tens medo, porque dos meus já sabe e sabe porque ainda choro... é porque te amo e quero, assim, viver triste e levar a vida chutando pedras. não adianta - é de você que eu gosto, é de você que quero escrever escutar ler, é de você que quero a completude.. que almas são assim incompletas e encontrei o amor na sua e na minha tem muito para você. a minha é pote cheio de amor e tu sabes, tu vês, não é cega... eu só preciso dizer que te amo, te ganhar, te perder sem engano, porque és assim pra mim: TUDO

07 dezembro 2006

lavínia ao espelho

É estranho quando me olho ao espelho. Ao mesmo tempo em que acho que tenho formas exatas, sinto que sou feia. Sinto que sou duas. Esses meus olhos que vejo ao espelho não parecem meus. Eu não sou assim! Olhos claros e tão humanos como esses não são meus. Sinto-me mais selvagem às vezes. É verdade que também sou humana. Mas é algo confuso. Sou duas. O sexo às vezes me enjoa, mas o sexo muitas vezes sou eu. Sou eu me conhecendo. Tem dias que coisas simples, como o sorriso de uma criança, me fazem sentir bem. Assim como há dias que a alegria delas me enoja. É dessas de ser duas que me provocam uma angústia eterna. Será mesmo que sou Lavínia? Quando olho um camaleão mudando de cor me imagino como ele. Mas será que sou como camaleão? Não mudo para me disfarçar, não queria ser assim. Mas do mesmo jeito gosto do camaleão. Deve ser por causa das cores bonitas. Disso eu sempre gosto, nisso não sou duas. Cores bonitas, café sem açúcar e alguns brinquedos quebrados são meus gostos. Disso não há contradição dentro de mim. Sempre gosto de ir a parques de diversão abandonados. E fico imaginando quantas risadas foram desperdiçadas ali; parece-me que as pessoas ainda estão ali se divertindo. Lembro do meu primeiro beijo. Numa barraquinha de maçã do amor o gosto doce da boca daquele menino faz lembrar coisas. Gosto de vasculhar todos os brinquedos enferrujados e parados há muito. Roda-gigante, carrossel... Chego à Casa dos Espelhos e me miro. Sou duas, três, quatro, mil. Sou diferente a cada momento, difícil de entender. Sou selvagem, sou cândida. Sou Lavínia.

30 novembro 2006

um pássaro pela noite

Acabara de sair do banho. Ainda com o corpo úmido e sem a toalha, a morena mantinha a janela do seu quarto aberta para refrescar o calor do verão de Belém. Era a mulher mais linda da cidade. Era nova, mas tinha um quê especial de mulher. Encantava a todos os homens da cidade e de outras, já que era modelo e suas fotos estavam estampadas em uma série de outdoors pelas ruas da região metropolitana de Belém. Era garota-propaganda de uma confecção de biquínis.

Enquanto enxugava seu cabelo escuro como o céu do norte, um pássaro vermelho entrou como uma bala pelo seu quarto. Ao bater o espelho caiu sobre o colo da mulher. A morena recolhe o pássaro nunca visto antes com as duas mãos e sente sua “quentura”. Aquilo a deixara abismada, um pássaro lindo e que lhe dava uma sensação estranha, aquele animal quente em suas mãos fazia com que ela também esquentasse. Mas não de um quente como o ambiente da cidade.

Colocou o pássaro sobre o seu peito e começou a imaginar algo erótico. Aquilo era estranho, mas a mulher entrou num transe e fazia do pássaro um homem. O homem que sempre esperou na sua vida. O homem perfeito. O pássaro se transfigurava em ser – humano, e ela o acariciava e tomava pelos braços. Agarrava-o junto ao rosto e o beijava como nunca beijara alguém antes.

Despida fazia com que esse homem explorasse seu corpo. Seus seios empinados, sua cintura fina, suas pernas bronzeadas e seu pé mínimo.

Subia pelo seu corpo e cada vez mais sentia um prazer nunca sentido. E era mais forte do que qualquer relação com qualquer outra pessoa. Fechava os olhos e via a floresta. Era um prazer de mato, selvagem. Ela gostava de ir para a floresta às vezes para ficar escutando os sons da mata: o vento que farfalhava as folhas; os animais em urros; e os pássaros em cantos magistrais.

Chegara ao ponto máximo. E foi como uma febre, o pássaro queimava em suas mãos. Estava desgastada, o pássaro acordara em suas mãos, e quando ela conseguiu abrir os olhos viu que o pássaro ficara azul. Ao virar-se para a janela para ver o céu estrelado, o pássaro salta de suas mãos e voa em direção ao firmamento escuro.

19 novembro 2006

deixei de ser gauche

quando me vi nos seus olhos
algo de bom me deu
de saber que eu não era esquerdo
saber que alguém gostava de mim
nos teus olhos vi meu reflexo
vi-me dentro de você
e assim soube que não era mais errado

veio um anjo loiro e me disse:
vai, Dionísio, deixe de ser gauche nessa vida!

12 novembro 2006

alcoólica II

parecia um casamento

e o uísque me derretia todo dentro do paletó

estava sério e sozinho na minha mesa enquanto as pessoas conversavam

uma menina entra pelo salão vestida de noiva

sim, eu conhecia aquela menina!

era minha filha que se casava

o uísque ficou suave e me fez lembrar da infância da pequena...

e ela era igual a mim

via no seu corpo a minha forma

era eu!

dei um abraço forte nela como se abraçasse um espelho

e me cortando o sangue que fluia dela era o mesmo que o meu

- e aí sogrão?

e o sonho se desfez!

alcoólica I

sobre a mesa copos de vários estilos e tamanhos

uns mais finos e altos; outros largos e baixos.

próximo a mesa, o bar

quantidade grande de garrafas de conteúdos diferentes

muitas pela metade

algumas apenas o cheiro de álcool no seu interior.

sorvo cada uma das bebidas

uso todos os copos da mesa

bêbado, sento na minha poltrona

esquálido, pálido, pasmo

fico vendo as sombras das garrafas e da minha mão

tremulas intermitentes.

me admiro, e ao fundo:

a televisão ligada no noticiário das 8.

07 novembro 2006

Microcontos

gostei da idéia de escrever em pílulas. quem sabe começo a escrever em biscoito da sorte de restaurante chinês barato...

Cinema de rua

Sessão prive às duas, em seguida sessão de descarrego.

Cuidado, menina!

Menina descuidada deixa levantar a saia quando o vento passa.

Vestibular

A, B, C, D, ou E?

Que bom seria se na vida fossem só cinco escolhas.

Velejador

Pra onde vou?

Estou sem rumo e os ventos vêm de todos os lados.

Homenagem ao concretismo

Primeiro passo: construa

Segundo passo: destrua

03 novembro 2006

o melhor amigo da família

chegou como quem não queria mais nada, somente um lugar para dormir e um pouco de comida. e foi ficando. os donos da casa tinham uma opinião divida sobre o novo hóspede. o homem não queria ele em casa, chega de vagabundos aqui! além das contas que não conseguiam ser mais quitadas. a mulher no entanto o amava e queria que ele ficasse, olhe como ele é bonzinho, meu amor? as crianças decidiram se o pobre poderia ficar em casa. destino: o coração mole do pai não agüentou o pedido dos meninos. tudo bem, mas ele fica aqui pela garagem e só! e não deixem ele chegar perto do meu carro! Último modelo, Scort, 93, vermelho e conversível. por ironia do destino o carro capotou e ficou destruído, nada aconteceu com o pai.

meses vivendo com o hóspedena garagem, outro acidente. agora, com o aquele que a mãe já chamava de filho, apesar de algumas contas dos meninos que mostravam que o hóspede tinha mais de 30 anos. o pobre estava pelas ruas, porque não tinha o que fazer durante o dia naquela garagem, quando foi atingido por uma moto! CRASH! deus-nos-acuda na casa. era a mãe correndo para a clínica em que ele fora levado e chorando, ele vai morrer... o pai com muita dó do pobre entrou com um empréstimo e o removeu para um hospital. graças a deus ele foi salvo! a mãe estava radiante e os filhos insistiam para que o pai recolhesse ele para dentro de casa, vai pai, pode acontecer isso de novo com ele. o pai aceitou de grado, eh! ele é bom companheiro!

foram anos de convívio. natais, férias, aniversários. e o hóspede envelhecendo, mais do que os habitantes. hoje, com mais de 90 anos, ele, que estava assistindo à televisão com os donos da casa, teve um ataque do coração que já estava fraco por causa dos pesados anos que se passaram. e os olhos tristes com que conquistou os corações dos moradores da casa, onde chegou como quem não queria nada, apagou-se. uma chama brilhou nos seus olhos e com a cara roxa deu seu último suspiro e morreu para desalento da família que hoje chora...

27 outubro 2006

00

era assim que queria que acontecesse, queria voltar ao zero! tudo do início, todo o começo pela frente de novo. refleti, pensei, costurei, remontei, colei, descolei, colori, apaguei e uma outra série de verbos e me vi assim, ajourd´hui, sem ter você pra me fazer sorrir, pra me dar abraços gostosos. já diziam que cancerianos dão os melhores abraços, mas sem os outros braços: NÃO DÁ!
tava afim mesmo é de te pedir desculpas por tudo que fiz, fui eu quem errou. eu que joguei tudo fora. queria, agora, deitar-me no seu colo e falar tudo, de tudo que sofri esse tempo em que ficamos longe. como quero correr de novo ao seu lado, los hermanos debaixo das cobertas. e falar de livros, então?! tentei algumas vezes voltar atrás, mas acho que não deu muito certo... tive medo e ainda tenho. não sei como podes encarar agora o que estou falando. me dá um sinal, que tal? sei lá, um jeito de posicionar as mãos sobre a boca, ou uma careta. qualquer coisa seria um sinal. quero que saiba que me arrependi e voltar ao 00 é o que quero. porque tu és Lavínia, aquela que preciso.

21 outubro 2006

Porque tu és Lavínia

porque és duas, és Lavínia. é de ser ambígua, de um bom oxímoro, de me fazer sorrir e chatear-se. és duas direções, pra cima e pra baixo. quando deitas e deixa seu corpo líquido-poético se esparramar. és de (hi) estórias e também de ficar high. e cai de novo em seu corpo líquido de álcool extravasando nos meus braços. e por falar em braços: seus braços são de um abraçar gostoso e de um afastar duro. ficar longe e depois estar próximo em um rato de tempo. és toda língua - áspera e doce - de afeto e ríspidez.
és Lavínia, és duas, e quero decifrá-las. porque, como és Lavínia, pode ser mais.

és grande!

Protocolo

PROTOCOLO

PRÓTO COLO

PRÓTO COLA

PRÓTO COLAGEM


Recortes de poesia burocrata

05 outubro 2006

Epifania

achava que essas coisas não existiam. essa felicidade que chega sem algum motivo aparente e, até mesmo, escondido. caminhando na chuva senti uma alegria, uma leveza indescritível. enquanto todos corriam para se esconder da água, eu caminhava devagar pela rua só sentindo as gotas de chuva, sem pensar em nada. olhava pro céu para ver de onde vinha a felicidade (seria algo divino?) e abria um imenso sorriso que nunca ousei dar. ri durante todo o percurso até em casa e quando cheguei: abri as janelas para que essa chuva boa inundasse o meu apartamento e a mim. seria muito bom que esses momentos durassem para sempre. tava desanimado com tudo no mundo e isso foi um golpe que me fez ascender do chão, como um lutador em um filme de ação. porém, é bom que momentos epifânicos como esse durem pouco e com rara beleza, pois se fossem regulares seriam chatos e banais.

04 outubro 2006

Alice Ruiz

Algo que vi escrito no ar...

Alice Ruiz - Overdose Lyrics
Já notou que eu te amo
Ou você pensa
Que toda vez que
eu ligo
É por engano?

Já sacou que é meu
vício
Minha droga
Meu barato
Ou vou ter que
curtir a rebordosa
Em algum hospício?

Pra me
deixar normal
Só uma overdose de você
Pra me pirar
legal
Só uma dose dupla desse mal

03 outubro 2006

Quem sabe numa esquina qualquer

sabe, não tenho muito o que falar... só queria encontrá-la de novo. sempre tenho dessas de querer ver de novo - sempre acho que algo novo e grande pode acontecer. só tenho o seu telefone e nome, quero mais: quero ver! porque ver é o único conhecimento da gente. se não vejo, não existe. e como era bonita queria lhe ver por muitas vezes mais. porque se não te vejo despedaça, corrói a imagem da minha retina, que já não enxerga tão bem como antigamente. se tivesse uma foto... mas não tenho! só a vi uma vez e foi tão intenso de dentro. de dentro. de dentro. de dentro. (ecoa!) deixa te ver de novo: cinema, choppinho, show de róque ou mesmo no banco da praça ou rua, que tal? você também não tem nada de mim, só meu telefone e meu nome (também) e, espero, lembrança... como era bonito teu cabelo, teus olhos àquela luz fraca. me dá vontade de ir até a sua casa e aos berros gritar seu nome, mas vou fazer o quê se só sei a sua rua e ela é cheia de casas e apartamentos?! qualquer dia desses ainda de encontro por aí e quem sabe teu rosto não tenha sido deformado pelo tempo. qualquer dia desses a gente se esbarra numa esquina e recomeça o que teve um breve início.

28 setembro 2006

D.O.R.

quando morrer não quero só dar um suspiro e sentir nada. quero sentir a dor da morte, agonizar, lançar estertores. se não for desse modo não saberei o que é a vida, porque a vida é sentida e só com dor no limiar da morte que vou saber que havia passado por ela. sentir a dor no peito, braços e uma leve vontade de chorar e assim fenecer e fechar os olhos apagando a luz. é assim que quero minha morte, Duro Olor (Res)sentido. D.O.R.

24 setembro 2006

medo

tu tantas vezes me dá medo. não quero te deixar sair e por isso só te deixo a chorar. eu sei que deveria falar contigo, mas não dá. quero te consumir aqui dentro mesmo, sem pensar em você por fora (dá um medo de me fuder!).

21 setembro 2006

de dentro, algo que não é meu

dessa de você me habitar, aconteceu algo estranho na última semana. caminhava pela praia num sábado nublado - é bom andar na areia ainda molhada da chuva do dia anterior - quando vi algo que era comum para mim. porém, chorei ao ver. mas era uma lágrima diferente, não tão salgada; de uma dor que espreme a garganta. parei e me sentei: deve ter algo de errado? mas lembrei que este gosto vinha de você. lembra quando você chorou enquanto eu te beijava? foi isso. era o mesmo gosto de água - que és tu. veio de dentro, veio de ti. já me dominas meu corpo; tomou me como modo de sair de mim. e a lágrima foi a primeira parte de ti que extravasou, mostra que daqui a pouco tornar-se-á real.

15 setembro 2006

Tu não te moves de mim

já és de dentro (in) e pensas que és livre. porém, não é tão fácil a sim, meu amor. construi castelos e fortalezas para te proteger e agora tu não te moves de mim. és assim: prisioneira. já pensei em te deixar ir, até fiz uma janela para que vejas o luar e o solar(?). mas foi tu que se enraizou em mim; você é quem se apoderou. mégara, já falei que tu me habitas, não é? agora fica difícil de despejá-la... lê um pouco, faz poesia e que cresça ela dentro de mim. cresça tu em mim e extravase ganhe limites maiores que meu corpo. faça um jogo de palavras - o que é o livro? - pra te fazer emergir do tédio da vida. a minha casa de (in) costumava sempre ficar cheia de flores; agora, você quebra todos os vasos e aos poucos torna-se cavalo dentro de mim. mas de cavalo eu gosto, assim como clarice: - com quem tu brincas de espelho - :cavalo lustroso e forte. tu és desenho criativo de linhas sobre fotografias, linhas poéticas, é claro! já que o que tu és dentro de mim é poesia. vem pra perto da cabeça e conversa no pé-do-meu-ouvido para que eu não me olvide de ti. vai dormir, querida, porque estás cansada e amanhã espero que tu acordes fora de mim e perceba que ainda nos pertencemos.

19 agosto 2006

ela e eu

eu: oi, posso me sentar?
ela: pode, né! como eu iria impedir.
eu: desculpa é que eu...
ela: você quer o quê?
eu: não eu estava pensando...
ela: de pensar demais morreu o burro.
eu: não. o que tenho para falar é simples.
ela: então desembucha homem!
eu: é que é simples, mas difícil de falar.
ela: quebra essa sua barreira, porque estou ficando curiosa.
eu: mas é que...
ela: pode falar, as pedras que estavam nas minhas mãos já estão nos rios.
eu: pô, é que faz tanto tempo que a gente não se fala direito, né? que eu perdi tino.
ela: mas foi você quem fez a cagada e acabou optando por se distanciar.
eu: eu sei, eu sei. mas me arrependi, fui muito infantil e tolo.
ela: ainda bem que não és burro!
eu: obrigado, porém me considero muito burro. me distanciei e perdi você de vista.
ela: pode continuar falando, sou ouvidos, somente.
eu: parece que criou-se uma barreira intrnsponível. sei não, parecia uma força que me impedia de me aproximar de ti.
ela: ............
eu: não sabe como você me faz falta. sei que nunca fui seu, mas volta. volta pro convívio meu que com você mais perto me sinto muito melhor.
ela: ...............................
eu: se não acredita no que falo, me dá um sinal, já que está atônita. um sinal teu é o que quero. um olhar, um suspiro, um tocar as mãos rapidamente, um beijo, quem sabe?
ela: aaaaaaaaaaaaai!
eu: eu gosto muito de você, amor!
ela: agora voltei pra ti, meu bem!

peço que voltes

ai, amor! não dá mais
é tanta distância que a gente mantém
parece um muro no ar,
alguma tensão, sei lá

vamos deixar pra lá
tudo mudou
voltas? então vem, por favor
não sabes a falta que você me faz

é difícil ter que te ver
e assim como um poste:
ter que ficar parado, gelado
volta, volta que ainda tens meu coração

p.s.- antes que me esqueça, isso não é uma poesia

16 agosto 2006

sábado de deus e de música

Acordar cedo aos sábados pode parecer um saco. Para mim às vezes. Às vezes porque todo mês escolho um sábado para limpar meus discos de vinil. E como é gostoso... Limpar discos velhos, de músicas velhas, todos empoeirados e até alguns riscados, isso é diversão? Respondo que sim. No dia que deus escolheu para descansar, escolhi o dia de me satisfazer. Não é só limpar os discos a tarefa de sábado. A limpa-los tenho que ouvi-los imediatamente. E como é gostoso guardar esse dia aos meus ouvidos.

Começo pelos de rock. Pra acordar mesmo! Som no talo: Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan... Espírito livre, espírito rock´n´roll flui pelo apartamento. E não somente a fase de loucos cabeludos, também tem a fase certinha do rock. Porque os Beatles também foram certinhos uma vez antes de conhecerem o mundo e acabaram saindo da roupagem alinhada. Que para não desmerecer gosto muito também.

Depois do bom e velho rock´n´roll importado venho me deliciar ao passar a flanela nos discos nacionais. Mutantes é o que toca. Psicodelia de sexo, drogas e muito som. Não se faz mais música como antigamente. Onde foi parar o espírito das guitarras distorcidas? Com certeza ficou em alguma estante de sebo. Depois de Mutantes, ataco com o disco Tropicália ou Panis et circencis. Que maravilha! Som de primeira, único, revolucionário, antropofágico. Caetano, Gil, Nara, Gal, Bethânia, Rita e os irmãos Baptistas, Duprat, Tom (o Zé, para que ninguém confunda com o maestro) e Torquato destruíram tudo e refizeram uma música com uma identidade multifacetada. Engoliram tudo que existia e desse alimento junto com o excremento fizeram arte, fizeram música.

Porém não podemos jogar fora o que foi feito antes e depois do movimento tropicalista. Então dou um salto para o passado. Para ser mais preciso nos primeiros anos do século. Chego a um Rio de Janeiro se modernizando e com o nascimento do samba. Noel Rosa. Não é preciso muito para falar desse compositor. Um homem que viveu até os vinte e poucos anos e produziu um número imenso de obras musicais que são maravilhosas! Mas também não posso esquecer de falar do maestro Pixinguinha. Como parece que esse homem foi um cara tão doce. E porque adoro Vinicius de Moraes e ao vê-lo dizer que Pixinguinha foi o ser – humano mais adorável que ele havia conhecido, eu fiquei ainda mais com essa impressão. Além da música clássica brasileira com o maestro Heitor Villa-Lobos. Ele, que foi responsável por levar à cabo o modernismo à música, escreveu peças fantásticas que mexem, não sei como, comigo. Música bonita e majestosa essa do começo do século, viu?

Mas como a grana é curta e o conhecimento musical não é tão vasto como muitos pensam, pulo para o ano de 1958, ano de nascimento da bossa-nova. Ouvir o maestro Brasileiro, o poetinha e o violão atonal do Joãozinho. Inovador, poético, banal. Esse espírito da bossa-nova é incrível. Quando ouço imagino o Rio de Janeiro, não mais como aquele de Noel e Pixinguinha, mas um Rio dos bares e da boêmia. E aí, nesse embalo, chega o mestre (me desculpem a babação). Sim ele mesmo, Chico Buarque de Holanda. Foi através dele que comecei a voltar no tempo da música. Foi através dele que conheci a verdadeira música brasileira. Depois dele vieram as paixões musicais. Mulheres com quem me casaria sem elas me conhecerem. Nara Leão, Gal Costa, Elis Regina. Que vozes!

Quando percebo a noite já caiu e todos os discos foram limpos e ouvidos. No dia em que deus descansou, fiz uma viagem pela música. Como num desfile de sentidos, além de ouvir, senti os gostos, enxerguei, toquei, cheirei e senti (mais do que tudo senti) a música pelo meu corpo.

04 agosto 2006

whisky

com o copo de uísque e um cigarro nas mãos, sentado na poltrona amarela, com as luzes apagadas e somente o abajur vermelho e a vitrola ligadas. são os sons da noite que me acompanham, já que você quis ir embora. dói, mas passa, porque o que gosto mesmo é me queimar. porque quem não se queima não tem o que dizer, não dói e não sente.

foi como você, preocupada em se cortar e ferir-se, fugiu, voou, escafedeu-se. não temas era o que te dizia, mas nem ouvidos e bocas você me dava. era nada. só repetições de cenas boas na cabeça.

mas agora é fim, você se foi e eu fiquei. voa que é o que precisas. se consegues voar até sem sair do chão, acho que é o melhor que você tem que fazer. não é somente um questão de ficar mais leve que o céu.

voa para o norte, já que a aqui no sul o frio chegou. e pra esquentar só o whisky.

03 agosto 2006

se não respondes...

se não respondes deixo por aí
acabo com a ficção. a vida é bela, o sol, a estrada amarela. existe outro sonho para se sonhar. falas mal, mas acaba voltando. sabe aquele neruda que você me tomou, devolve. falta poesia, falta razão. te bate te esconjuro te mato. não és mais nada. (confusão de conjugação). arremate, farpa, frases recortadas de músicas. nada explica, nem freud, nem deus, nem nada.

pára com a brincadeira, gato-rato, esconde-esconde. já tentei te pegar, já tentei fugir. mas essa brincadeira não tem fim. brincadeira de pular e contar o tempo. vamos brincar? já era! era é coisa passada. podemos ainda brincar de mentira, que não é ficção [cê e cedilha+cê]. . continua vazio sem pudores...

poesia nua de todo dia. tarde de sábado, quando todos os maridos funcionam regularmente.

até que o apito da fábrica de tecidos vem me acordar dos delírios.

beijo, abraço e até!

31 julho 2006

direto ao .

se gostas de mim, por que não falas?
porque de ti ainda gosto, mas as coisas vão se perdendo, esfacelando..

conta-me

se te pareço estranho, me decifra. caia dentro de mim; me use; mergulhe.

caia de cabeça e me conte as suas histórias de mar e sertão. traqüilidade e aridez. coração de pedra, não é assim.

isso de esquisito e estranho eu já sei que sou, não precisa gritar aos ventos para que eles me tragam ao ouvido está sentenciado nos acentos e na pronúncia prosáica. é que sempre me falta algo, me falta poesia.

sou um copo sempre pra derramar. e qualquer coisa miníma é fato consumado.

vem falar comigo. quero saber das suas aflições. não deixe que o frio, que faz agora, congele você para recuperar o tempo perdido. ainda há tempo para resolver tudo.

há tempo ainda para se contar.

30 julho 2006

ponto

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ponto é o que sou!

30 junho 2006

Carteiro

Chegou a mim uma carta muito estranha esses dias. Nela, coisas que pareciam de você pra mim, coisas que aconteceram com a gente. Presentes, o que não foi; tudo confuso. Foi o que senti quando a li. Coloquei-a de lado e sair para andar, refrescar-me. Voltei, mas a dúvida ainda era grande. Lia e relia. Até você esbravejar comigo. Me senti um idiota e egoísta, reduzido, mínimo. Me enterrei, plantado no gramado. Não era isso que eu queria, sabe? Já não quero mais isso, mas foi foda, dúvida é foda. Mas a dura foi boa descobri que estava totalmente engando, o carteiro havia errado o destinatário. Mas de repente, não mais que de repente: ele me bate à porta de novo. Outra carta sua. E agora? Essa tenho certeza que é para mim. Mas ela é cheia de enigmas e palvavras cortadas de. Não compreen. ma. is. Vamos deixar pra lá e fingir que nada aconteceu foi só mais um erro do carteiro que sempre erra onde moro. É porque não moro por aqui. Esse é só um esconderijo, agora tenho um outro lugar para viver, amar, andar, brincar, pular, sentar, deitar, morrer.

26 junho 2006

Namoradas das docas

Hoje é 12 de junho. Convencionado por nós como dia dos namorados. Vou me arrumar, escolherei a roupa mais ajeitada do meu armário e irei para rua pegar um táxi.

Farei um sinal e pedirei que o motorista me leve até o cais do porto. O trajeto é longo, pois moro do outro lado da cidade. Inevitavelmente a conversa será sobre o dia de hoje. O motorista irá reclamar de toda idéia de consumo por trás da comemoração e dirá que não fará nada de especial com sua mulher; vai me contar que prefere tirar esse dia para trabalhar, já que muitos namorados sairão nessa noite. Vou tentar ficar calado e deixar ele falar durante os vinte minutos do percurso, mas será inevitável a minha mudez porque, com certeza, ele perguntará o que vou fazer na zona portuária num dia como o de hoje. Terei que explicar que vou fazer umas visitas às minhas namoradas das docas. Já vejo sua estranheza com a minha resposta; e depois disso ficaremos sem trocar uma palavra até a hora de lhe pagar a corrida.

Primeiro irei visitar Lucinda. A polaca dos olhos verdes e cabelos ruivos como fogo; ardor na cama. Para ela comprarei um cartão e que ela irá guardar em seu criado-mudo, junto aos cartões dos anos interiores que ela lê todos os fins de noite, como me confessou na semana passada. Tomarei um drink no bar do prostíbulo com ela e trocaremos poucas palavras. Depois levarei ela pelas mãos e como um casal de noivos vou carregá-la para entrar no quarto no fim do corredor escuro no segundo andar do sobradinho. Ela irá arrancar as minhas roupas e me jogará na cama. Lembrarei que tenho que lhe entregar o presente, ela passará os olhos pelo cartão colocará ele de lado e me beijará com todo fervor. Olharei o relógio na parede e descobrirei que o encontro será muito rápido; terei que sair para o segundo encontro em três quartos de hora. Chegarei ao orgasmo enquanto ela me prende em suas pernas brancas e sardentas. Vestirei-me e darei um abraço forte dizendo que irei voltar em breve. Aproveitarei e deixarei o dinheiro dentro de seu sutiã enquanto damos o último beijo.

Chegarei à rua e andarei por três quarteirões abaixo próximo ao bar dos estivadores.

Entrarei na casa de strip-tease e me encaminharei até os camarins. Lá estará ela, Eurídice, a deusa negra. Passista de primeira. Ancas largas, seios mínimos. Um doce de mulher, além de excelente cantora. Darei um beijo ardente em sua boca e entregarei a ela um sapato de cristal para ela brilhar na quadra da escola de samba. Ela não vai querer esperar um minuto para subirmos ao quarto. Antes de fazer seu show, ela me dará um particular. Cantará minha música preferida e enquanto eu estiver aplaudindo, cairá nos meus braços e afundará sua cabeça no meu peito dizendo que sentira falta das minhas visitas. Mais trinta minutos de sexo e tenho que sair o mais rápido possível, pois estarei atrasado. Porém ela conseguirá me convencer a tomar uma dose de uísque. O álcool subirá para a cabeça e começarei a andar meio torto.

Olharei o relógio da rua e apressarei meu passo.

Baterei à quitinete de Rosa. Tocarei a campainha insistentemente, pensando que ela deva ter saído por causa do meu atraso. Mas ao terceiro toque ela abrirá a porta, pulará em cima de mim e por causa da minha leve embriaguez quase que vamos os dois ao chão. Ela me puxará até a cozinha e me oferecerá uma batida que ela havia feito. Mais uns goles e direi que preciso tomar uma ducha. Irei ao banheiro e ela virá atrás de mim. Tirarei minha roupa e ela também; ela me abraçará e nós faremos sexo debaixo da água escassa que cai do chuveiro. Depois do banho tomado e dos espasmos molhados andaremos até a sala, nus, e conversaremos até umas 2 da manhã quando decido ir embora. Despeço-me e lembro de entregar as flores que comprei a ela, junto com algum dinheiro.

Pegarei um táxi e voltando repararei nos bares, restaurantes, cinemas e motéis. É certo que verei muitos casais apaixonados com flores, jantando a luz de velas, de mãos dadas, se beijando em bancos de praça e pensarei em quão tolo é isso. Por que fazemos todas essas coisas nesse dia? Por que os outros são diferentes? Uma coisa garanto: o meu com certeza será diferente.

18 junho 2006

Mais um dia...

Mais um dia que acaba. Acordando uma da tarde e com uma fome tremenda. Me lembro que estou sem dinheiro, então acendo o primeiro cigarro do dia e tento esquecer o que virá. Ligo o computador e sinto uma vontade imensa de ligar naquela rádio de internet e coloco músicas daquela banda que aprendi a gostar na terça. As outras pessoas acordam e ligam a TV. Um jogo de futebol pouco interessante passa naquele momento. Eles me dizem para ir almoçar, explico que estou sem dinheiro, mas a fome é tanta que vou usar o cartão com os últimos centavos que me restam. Volto pra casa e me encaminho ao computador para voltar à música que me embala. O jogo termina do jeito que eu não queria. Esse dia vai ser péssimo. Logo em seguida começa o outro jogo, nem me ligo nele, o que me interessa é o clima de alegria na casa. Um amigo chega com cerveja. Tomo uns goles, mas não cai muito bem. Acaba o jogo. Empate. Decido ir ao cinema sozinho. Um filme sempre é bom. Outra infelicidade acontece. O filme é uma droga. Momento de tensão. Encontro alguém que não pretendia encontrar, seus passos tortos me indicam que aquilo não poderia acontecer mesmo. Fico encostado à porta automática para que não feche e aceito o convite. Escada e música, sem dança. Fico pensando em outras coisas enquanto as pessoas conversam. Decido sair dando uma desculpa bem mediocre. Na rua, sedento por um cigarro, recebo uma ligação. Um convinte - sim irei tomar vinho com vocês. Volto pra casa e logo saio. Nesse intertempo, uma coisa me alegra, que bonito casal, penso. Compra galão de vinho e aluga filme. Mais uma ligação. Sinais trocados. Saio de casa depois de dois copos de vinho e antes de começar o filme. Chegando no outro lugar, já com os sentidos mais aguçados, abraços os recém-amigos. Mais filme. Cansei de ver essa encenação e fico prestando atenção em outras coisas. Num tênis. Vermelho! É igual ao meu. Pára de pensar, me diz o consciente. Continue olhando, me diz o inconsciente. Um movimento leve, o ir e o voltar dos pés como num balanço. Último abraço - já vai dormir? Um pouco da música e jogos de computadores. Vou embora - quero dormir! Chego em casa e todos dormindo no sofá enquanto outro filme passa na tela do computador. Todos vão para os quartos e eu fico escrevendo como foi o meu dia enquanto fumo meu último cigarro...

09 junho 2006

Sobre cigarros

fuma, fuma, fuma
prometi que iria parar de fumar,
mas meu cinzeiro está cheio de guimbas.

Flores

a casa estava cheia de flores
você esqueceu de regá-las
e elas morreram

Cansei!

é um daqueles dias fatigantes. tudo dá errado e você queria apenas era ficar deitado no sofá sem mover um músculo. sem dormir, somente ficar ali parado: estado vegetativo. ligar um som que poderia te deixar mais pra baixo e ficar naquele sofrimento reprimido, segurando, até explodir para ver se tudo acaba mais rápido. é uma angustia forte que parece o início da morte. eu como aquele brigadeiro da noite anterior e imagens correm na minha cabeça como um filme. assim eu percebo como fui tolo e cego. gestos e jeitos de falar ressurgem e estes últimos momentos ficam inteligíveis. como você não havia percebido antes? - me pergunto. é melhor deixar tudo para trás e esquecer, seguir rumo e não olhar para os caminhos errados que peguei. mas essa angústia vai deixar marcas; cicatrizes de algo que não deu certo; e o pior, não sei onde é que eu errei! o que faltou? cansei da vida.

01 junho 2006

Ma petite française

Essa é minha homenagem para a francesinha mais querida do mundo que eu conheço!

Miennes souvenirs étaient:
la fummé de ma cigarrete et
vôtre parfum dans ma rêve.
Le vôtre sourire finissait avec la fummé
et le parfum devinait
le odeur de cette tulipes
que vous aimée.

31 maio 2006

Amigo

Amigo, estava andando pelas ruas
e pensei em te encontrar
bater um papo, sei lá,
te chatear.
Você me entende, me recebe.
Rimos alto, falamos baixo;
segredos da vida.
Não brigue nunca comigo, amigo.
Se algum dia te disser
que o amor que tenho não é mais aquele,
simples afeto e carinho,
não se preocupe;
Ele virou amor de amante.
E, agora, é imensamente grande

Tornando inteligível

Eu tenho quase tudo,
mas me falta algo.
E isso que me falta
me deixa sem nada.

27 maio 2006

Tartarugas

Andava eu pelas ruas despreocupado. Com o passo leve e ligeiro me peguei pensando em tartarugas. Bichos engraçados são as tartarugas, jabutis e afins. Quando nascem, já são velhas. Nunca vi um filhote de tartaruga como um filhote de cachorro, gato, ou quaquer animal de outra espécie. Elas não têm a intensidade dos outros. São lentas desde o nascimento, têm um espírito manso como dos velhos. Isso me fez pensar em outra coisa, as tartarugas conseguem viver por mais de cem anos por causa dessa maneira de levar a sua existência. Ao viver assim devagar elas carregam um outro tempo, diferente do nosso. Eu, por exemplo, sou ativo e elétrico. Pés desesperados quando se encontram parados, braços agitados e boca falante. Vivo nessa velocidade porque não quero levar a minha existência por muito tempo. Isso, é claro, se a minha pequena experência em pensar em tartarugas tiver algum fundamento. Quero viver a cada vão momento, como disse o poeta, e o mais rápido possível. Morrer aos sessenta para mim estaria de bom tamanho, medida precisa de tempo contado de passos, risadas, amores e dissabores.

25 maio 2006

6 x Vinicius

como a batalha (quase uma guerra) para ecrever algo com recortes de poemas e escritos de Vinicius de Moraes não acaba nunca resolvi colocar apenas um poema que gosto muito. Esse poema é declamado no filme Vinicius pela Maria Bethânia.

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante

O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Rio de Janeiro, 1951
in Novos Poemas (II)
in Livro de Sonetos
in Poesia completa e prosa: "Poesia varia"

20 maio 2006

Novela de cavalaria

imaginava, eu-cavaleiro cortejando donzelas. debaixo de uma armadura reluzente em cima de meu cavalo branco, forte. lutar contra dragões e acordar as damas adormecidas em suas torres. altas torres cercadas de espinhais. machuca às vezes, mas quem disse que amar não vale a pena? vou atrás de aventura por florestas e brumas em busca da salvação. santo graal que me levará aos céus. carrego a cruz no meu escudo que irá me proteger. proteger o meu senhor que me dá abrigo. senhor de muitas terras, extensas terras que vão além da nossa visão. brasão e nome, carregarei a tradição para poder mostrar minha bravura.

19 maio 2006

Tuberculose

tosse tosse tosse
isso me motivou a entrar em um mundo novo
vou me arriscar pela poesia
tosse tosse tosse
doença de escritor?
não, não sou escritor
só me arrisco a escrever algo
isso de tossir me deu inspeiração
tosse tosse tosse
não consigo controlar nem métrica nem rima
meu poema é disconjunto e tísico
tosse tosse tosse
forma e técinca eu abdico
não sei dessa coisa de escrever
nem sei o que é o amor
e nem sei o que é o ódio, também
tosse tosse tosse
não quero ficar num quarto fechado
quero sair e ver o sol
tosse tosse tosse
quero expelir o que sinto, vejo e respiro
tosse tosse tosse

17 maio 2006

Diálogo

: 1, 2, 3, 4, 5
: porque você gosta tanto de contar números?
: porque tudo se traduz em números, assim tudo fica mais racional
: pra que pensar tudo racionalmente? experimente fazer igual a mim e conte palavras
: como assim? contar palavras?
: sim, isso mesmo. ecrever para mim é contar palavras.
: mas contando você não escreveria algo muito racional?
: não. assim eu viajo e não sigo rumos, abstraio.
: ainda prefiro contar números e continuar racional
: mas isso é muito sem graça você fica reto
: as estradas retas me agradam
: prefiro não ser reto. gosto de curvas
: das curvas eu gosto também
: então, tente
: não, não quero
: é simples por que não tenta?
: tente você
: pra que. já chega esse mundo com formas quadradas
: mas a Terra é redonda
: mas o pensamento de quem mora nela é quadrado
: inclusive o seu. a sua intransigência é muito pior que meu pensamento
: eu não sou intransigente
: claro que é
: me mostre?
: te mostro por a mais b que isso é verdade
: então me mostre. quero ver se esse seu pensamento matemático consegue explicar tudo
: então tá
: então comece, ou por acaso você terá que teorizar sobre a minha suposta cabeça dura?
: não é bem assim
: então porque nós discutimos tanto?
: deve ser porque os dois são cabeça dura
: eu não sou
: e eu também não
: como assim, você acabou de dizer que é
: eu não disse nada só pensei na possibilidade...
: está vendo. o seu método não diz nada, você quer tornar tudo absoluto com suas fórmulas prontas e agora está supondo
: tudo bem, admito, nessa eu perdi, meu amor
: viu, a abstração é o caminho
: mas ainda vou contar meus números
: se assim queres
: 2510, 2511, 2512...

16 maio 2006

Desfile das Letras

quero escrever sem interrupções um texto sem paradas que verbo que se movimente com tal velocidade quero a harmonia na sua evolução enredo samba na passarela em busca da apoteose quero fantasia e luxo nos seus verbos no que leva e sonoridade batida de uma bateria que façam dar um ritmo mestres e salas com suas portas e estandartes a rodopiar palavras que carregam o pavilhão do que escrevo os vocativos puxadores levando o samba para a avenida um desfile linha reta direta sem espaços desfile eterno sem tempo para acabar e muitas palavras para sambar

14 maio 2006

A nossa estrela vai cair

Quando era criança adorava olhar para o céu procurando cometas para fazer-lhes pedidos. Acreditava que os pedidos ficariam vagando no espaço e todos os meus desejos fossem levados à outros planetas e galáxias. Mas hoje lendo o jornal descobri que os cometas também morrem. Essa pode ser a última vez que o cometa 73P/Schwassmann-Wachmann 3 passe próximo a Terra e seja visível para nós.
Será meu último pedido para esse cometa, que não sei se ainda carrega alguns dos meus desejos. Quando, nessa noitem, eu olhar para cima e ver essa estrela que vaga pelos céus vou pedir para ele que todos os meus pedidos caiam sobre você.
Porque contigo tive os melhores momentos da minha vida. E agora que meu tempo está perto do final quero que minha vida fique com você. E como o cometa, que agora virará poeira cósmica e ficará para sempre eterno no espaço sideral, quero ficar para sempre nos seus pensamentos. Minha vida se esvai e só me restará o pó também.
E assim como o cometa a estrela do nosso amor vai cair e iremos para eternidade indo contra o tempo e fique presente em todo o espaço de sua existência. E quando chegar a hora da gente se reeencontrar que outro cometa desapareça e os meus pensamentos fiquem na Terra e a gente terá a eternidade para viver.

18 abril 2006

Minha primeira vez

Sentia-me pisando num chão de esmeraldas. Foi maravilhoso, fantástico e ...sem palavras...
Via o rosto dela contra a luz e meu reflexo se mostrava. O sorriso dela era da minha alegria, tomava todos seus sentimentos como meus e entrava nos céus vidrado em seus olhos. Não conseguia parar de pensar um minuto no que fazia e nesse instante remoto explodi em felicidade e todas as cores coloriram a sala. Nada tinha me deixado tão feliz, ela me transformou em outra pessoa. Saí gritando pelas ruas seu nome, dizendo que a amava. Pena que ela não me ouvia. Foi minha primeira vez...



























...foi a primeira vez que vi Fabuloso Destino de Amelie Poulain!

29 março 2006

Como plantar batatas

Quando eu era criança tinha muita curiosidade sobre o que os adultos falavam. Adorava ficar nas suas rodinhas em meio a copos de uísque e cigarros para saber do que eles riam tanto. Muitos deles achavam graça, aquele toco de gente infiltrado naqueles metros de altura. Porém um amigo do meu pai não gostava muito daquela minha intromissão e me mandou plantar batatas. Não entendi direito o que aquilo significava. Na noite seguinte minha mãe estava fazendo batata-frita, o meu prato preferido, e aproveitei uma leve distração dela e tomei aquilo que para mim era um apenas um negócio feio e sem forma. Guardei-a debaixo da minha cama e estava certo que no dia seguinte iria plantá-la. Acordei mais cedo no dia seguinte, meus pais ainda dormiam. O sol ainda não havia saído e com uma pá que usava para fazer castelinhos de areia no parque da praça comecei a abrir um buraco no jardim de casa. Após ter feito uma cova de aproximadamente dois palmos, lembrando que eram dois palmos meus quando criança, coloquei com muito cuidado a batata. Recoloquei a terra e cobri com algumas pedras para disfarçar o montinho de terra que havia aparecido. Busquei a mangueira e reguei o que havia acaba de plantar. Voltei para a cama para que meus pais não percebessem que havia saído de casa. Limpei minhas mãos e fui direto para baixo das cobertas. Mas não consegui dormir tentando pensar no que aquele amigo do meu pai tinha falado. Acabava de plantar batata, mas nada havia mudado. Então pensei que seria preciso esperar o pé de batata crescer. Era muito criança, ainda tinha 6 anos, e não sabia que as batatas não davam em pé como as laranjas, maçãs e amoras. Enquanto passavam os dias ia todos os dias perto da minha batata. Dizia para ela meus segredos e contava-lhe histórias. As que gostava mais eram do sítio do Pica-Pau Amarelo. Imaginava que ela viraria alguém como o Visconde de Sabugosa. Os dias foram passando e chegou a época das chuvas, assim não precisava regar minha pequena batatinha. Porém com as chuvas também ficava mais difícil de conversar com ela. Então chegaram os meses do florescer das plantas. E eu imaginei que seria também a época da minha batata brotar. Mas ela não saiu para me ver brincar nas ruas e rir junto comigo. Comecei a ficar preocupado, pois começara umaa época de muito frio. Imaginava que a batata não aguentaria aquele tempo de bater queixo. Um dia o gramado havia ficado todo coberto de gelo e me deu um medo dela ter virado picolé, como pensava de tudo que era gelado. Ainda bem que o frio não ficou muito tempo em casa. Minha alegria voltara, pois os dias bonitos haviam retornado e agora minha batata teria motivos de sobra para aparecer despontando a terra. Porém já havia passado um ano e nada dela aparecer. Acabava descobrir o motivo pelo qual aquele homem havia me mandado plantar batatas. Preocupado demais com minha plantinha, não ficava mais me metendo na conversa dos adultos. Porém antes de me desanimar abri o buraco. Minha surpresa foi imensa. Havia um monte de batatas dentro da terra! Chamei minha mãe e disse o que havia feito. Ela ficou rindo sem parar enquanto contava tudo. Ela deu uma idéia sensacional, disse para fazer batatas-fritas no jantar com elas. Sem dúvida que aceitei! E desde aquele dia penso que o querem dizer com "vá plantar batatas" não é o que realmente pensam e sim uma coisa muito diferente. No mesmo dia em que me empanturrei de batatas, aproveitei para roubar mais uma e fazer tudo de novo como naquele ano que havia passado.

15 março 2006

Andando em meio às artes

Mundo labiríntico. Mil corredores e portas que levam às artes. Depara-se com pinturas que disparam suas cores para o ambiente. Escutam-se sons através das portas. Notas musicais que percorrem caminhos e completam o colorido dos corredores com o som do canto lírico de uma mulher. Suas notas agudas nos fazem perder a visão e entramos num túnel que nos levam a lugar algum. Qualquer um se perde e se acha por aqui. Sem querer pode-se cair numa sala forrada de livros nas estantes, pedindo para serem levados. São esses encontros e desencontros que nos permitem ver um filme e terminar com um papo-cabeça no Café.

03 março 2006

Parque Industrial

"Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção
Tem garotas propaganda
Aeromoças e ternura no cartaz
Basta olhar na parede
Minha alegria num instante se refaz
Pois temos o sorriso engarrafado
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar e usar
É somente requentar e usar
O que é made, made, made
Made in Brazil
O que é made, made, made
Made in Brazil
Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção
A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar
É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado
É somente folhear e usar
É somente folhear e usar
O que é made, made, made
Made in Brazil
O que é made, made, made
Made in Brazil
O que é made, made, made
Made in Brazil
Made in Brazil"

Tom Zé - Parque Industruial - Tropicália ou Panis et circensis

Floresta virgem. Ninguém havia chegado aqui, até umas semanas atrás. Os animais brincavam sobre a folhagem seca nas terras. Algumas plantas trepavam em outras árvores maiores para alcançar um pouco de luz, já que no seu interior é uma escuridão total e apenas os olhos das onças e alguns esparços faixos de luz davam um teor mais tênue na escuridão. Porém esse cotidiano mudou desde que as máquinas chegaram por aqui. Com a seção das terras pelo governo, criou-se uma zona franca de produtos tropicais. Os animais e plantas mal sabiam o que aquilo significava, mal esperavam eles o que poderia acontecer. Começou com a construção de uma usina. Começou a derrubada das árvores. Os bichos saíram para o outro lado da mata. Uma fumaça preta subira ao céu pela primeira vez. Era a previsão da morte. Porém não se pode pensar que vieram industrias modernas, de computadores, carros... Vieram pra cá industrias de bananas, da florestas, bundas carnavalescas, propagandas, aeromoças, futebolístas, etc.. A construção desse parque industrial já alcançara metade da floresta e milhares de árvores e bichos viraram parede para as casas e roupa que dedsfilvam nas noites das cidades grandes. Milhares de pessoas chegavam de longe para trabalhar e o sossego da floresta acabou. A escuridão foi trocada pela iluminaçlão alaranjada das lâmpadas de segurança e das ruas das indústria. Agora não há mais floresta. Os passáros já não fazem mais a sinfonia da floresta. Não há mais bichos. E nenhuma planta. Somente os produtos artificias que dominavam as ruas e estoques das fábricas. Antes eu era parte dessa floresta, agora sou um simples operário, que tem que bater cartão e chegar no seu barraco para descansar e trabalhar no dia seguinte.

19 fevereiro 2006

Roteiro de curta metragem, pensado por Cauê e Renan em momentos de total ócio no Banco

Ele chega como todo calouro, reparando em todos os cantos do espaço que acabou de chegar. Abre a porta e caminha pelo corredor e chega perto do Banco. Olha os quadros que delitam os cartoons desenhados na parede. Na direita o menino Maluquinho, do Ziraldo. E na esquerda um desenho feito por Zé da Silva. Mas uma coisa o intriga. Uma mancha de sangue entre os dois quadros. O que poderia ser aquilo. Percebe que ninguém ao seu lado olha para a mancha. Todos passam rápido para sua sala. Ele olha seu relógio e acompanha os outros para sala. Acaba o dia e ele volta pra casa. Estava com fome e decidi preparar um macarrão com molho de tomates. Bota a água para ferver e começa a refogar o molho. Por descuido ele derrama o molho vermelho em sua camideta branca. O molho estava quente e aquilo foi com se levasse um tiro na barriga. O vermelho pingava pelo chão da cozinha até o banheiro onde retirou a camiseta. Enquanto lava o cor vermelha fivcava cada vez mais fraca. Tudo aquilo fez com que lembrasse dos acontecimentos da manhã no seu curso. Nos dias seguintes tudo se repetia. Ele chegava e olhava a mancha de sangue que o atormentava. E ficava pensando o dia inteiro o que poderia ser aquilo. Quando um dia ele chega oa corredor e se assusta. A mancha de sangue não estava mais lá. Ele esfregou os olhos, lavou o rosto. Mas era certo a mancha não estava lá. Ele senta no Banco e fica com a cabeça perfeitamente onde o sangue estava. Coloca as mãos nos bolsos e dele retira uma arma. BUM. A parede volta a ficar suja de sangue.

08 fevereiro 2006

O banco

O Banco é um lugar perfeito. No fundo do corredor vendo todas as pessoas que entram na sala passar. Costuma ficar sempre ocupado. Pessoas esperando alguém chegar, cansados, ressacados e quem não está fazendo seu trabalho. Muitos aproveitam para matar o trabalho e conversar com alguém nesse centro de atenções, que é o Banco. As melhores conversas acontecem no Banco. De política, de meninos, de meninas, de festas, de livro, de cachaça. Um banco democrático que recebe a todos sem distinção de cor, credo, classe-social. Não respeita hierarquia. É um puro anarquista. Entretanto, nem tudo é felicidade no banco. Um dia desses pensou em sair daquele lugar. Quando tentou fugir cortaram-lhe as pernas. E agora serve somente como tábua numa contrução. E já decidiram que nessa festa junina será a lenha para fogueira.

Homenagem a todos os BANCOS!
Esses são os verdadeiros bancos que nos atendem...