16 agosto 2006

sábado de deus e de música

Acordar cedo aos sábados pode parecer um saco. Para mim às vezes. Às vezes porque todo mês escolho um sábado para limpar meus discos de vinil. E como é gostoso... Limpar discos velhos, de músicas velhas, todos empoeirados e até alguns riscados, isso é diversão? Respondo que sim. No dia que deus escolheu para descansar, escolhi o dia de me satisfazer. Não é só limpar os discos a tarefa de sábado. A limpa-los tenho que ouvi-los imediatamente. E como é gostoso guardar esse dia aos meus ouvidos.

Começo pelos de rock. Pra acordar mesmo! Som no talo: Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan... Espírito livre, espírito rock´n´roll flui pelo apartamento. E não somente a fase de loucos cabeludos, também tem a fase certinha do rock. Porque os Beatles também foram certinhos uma vez antes de conhecerem o mundo e acabaram saindo da roupagem alinhada. Que para não desmerecer gosto muito também.

Depois do bom e velho rock´n´roll importado venho me deliciar ao passar a flanela nos discos nacionais. Mutantes é o que toca. Psicodelia de sexo, drogas e muito som. Não se faz mais música como antigamente. Onde foi parar o espírito das guitarras distorcidas? Com certeza ficou em alguma estante de sebo. Depois de Mutantes, ataco com o disco Tropicália ou Panis et circencis. Que maravilha! Som de primeira, único, revolucionário, antropofágico. Caetano, Gil, Nara, Gal, Bethânia, Rita e os irmãos Baptistas, Duprat, Tom (o Zé, para que ninguém confunda com o maestro) e Torquato destruíram tudo e refizeram uma música com uma identidade multifacetada. Engoliram tudo que existia e desse alimento junto com o excremento fizeram arte, fizeram música.

Porém não podemos jogar fora o que foi feito antes e depois do movimento tropicalista. Então dou um salto para o passado. Para ser mais preciso nos primeiros anos do século. Chego a um Rio de Janeiro se modernizando e com o nascimento do samba. Noel Rosa. Não é preciso muito para falar desse compositor. Um homem que viveu até os vinte e poucos anos e produziu um número imenso de obras musicais que são maravilhosas! Mas também não posso esquecer de falar do maestro Pixinguinha. Como parece que esse homem foi um cara tão doce. E porque adoro Vinicius de Moraes e ao vê-lo dizer que Pixinguinha foi o ser – humano mais adorável que ele havia conhecido, eu fiquei ainda mais com essa impressão. Além da música clássica brasileira com o maestro Heitor Villa-Lobos. Ele, que foi responsável por levar à cabo o modernismo à música, escreveu peças fantásticas que mexem, não sei como, comigo. Música bonita e majestosa essa do começo do século, viu?

Mas como a grana é curta e o conhecimento musical não é tão vasto como muitos pensam, pulo para o ano de 1958, ano de nascimento da bossa-nova. Ouvir o maestro Brasileiro, o poetinha e o violão atonal do Joãozinho. Inovador, poético, banal. Esse espírito da bossa-nova é incrível. Quando ouço imagino o Rio de Janeiro, não mais como aquele de Noel e Pixinguinha, mas um Rio dos bares e da boêmia. E aí, nesse embalo, chega o mestre (me desculpem a babação). Sim ele mesmo, Chico Buarque de Holanda. Foi através dele que comecei a voltar no tempo da música. Foi através dele que conheci a verdadeira música brasileira. Depois dele vieram as paixões musicais. Mulheres com quem me casaria sem elas me conhecerem. Nara Leão, Gal Costa, Elis Regina. Que vozes!

Quando percebo a noite já caiu e todos os discos foram limpos e ouvidos. No dia em que deus descansou, fiz uma viagem pela música. Como num desfile de sentidos, além de ouvir, senti os gostos, enxerguei, toquei, cheirei e senti (mais do que tudo senti) a música pelo meu corpo.

2 comentários:

Anônimo disse...

quantos nomes, quantas vontades, quantas aspirações!



alguém morreu nesse dia?
bisous!

Anônimo disse...

cool...