30 junho 2006

Carteiro

Chegou a mim uma carta muito estranha esses dias. Nela, coisas que pareciam de você pra mim, coisas que aconteceram com a gente. Presentes, o que não foi; tudo confuso. Foi o que senti quando a li. Coloquei-a de lado e sair para andar, refrescar-me. Voltei, mas a dúvida ainda era grande. Lia e relia. Até você esbravejar comigo. Me senti um idiota e egoísta, reduzido, mínimo. Me enterrei, plantado no gramado. Não era isso que eu queria, sabe? Já não quero mais isso, mas foi foda, dúvida é foda. Mas a dura foi boa descobri que estava totalmente engando, o carteiro havia errado o destinatário. Mas de repente, não mais que de repente: ele me bate à porta de novo. Outra carta sua. E agora? Essa tenho certeza que é para mim. Mas ela é cheia de enigmas e palvavras cortadas de. Não compreen. ma. is. Vamos deixar pra lá e fingir que nada aconteceu foi só mais um erro do carteiro que sempre erra onde moro. É porque não moro por aqui. Esse é só um esconderijo, agora tenho um outro lugar para viver, amar, andar, brincar, pular, sentar, deitar, morrer.

26 junho 2006

Namoradas das docas

Hoje é 12 de junho. Convencionado por nós como dia dos namorados. Vou me arrumar, escolherei a roupa mais ajeitada do meu armário e irei para rua pegar um táxi.

Farei um sinal e pedirei que o motorista me leve até o cais do porto. O trajeto é longo, pois moro do outro lado da cidade. Inevitavelmente a conversa será sobre o dia de hoje. O motorista irá reclamar de toda idéia de consumo por trás da comemoração e dirá que não fará nada de especial com sua mulher; vai me contar que prefere tirar esse dia para trabalhar, já que muitos namorados sairão nessa noite. Vou tentar ficar calado e deixar ele falar durante os vinte minutos do percurso, mas será inevitável a minha mudez porque, com certeza, ele perguntará o que vou fazer na zona portuária num dia como o de hoje. Terei que explicar que vou fazer umas visitas às minhas namoradas das docas. Já vejo sua estranheza com a minha resposta; e depois disso ficaremos sem trocar uma palavra até a hora de lhe pagar a corrida.

Primeiro irei visitar Lucinda. A polaca dos olhos verdes e cabelos ruivos como fogo; ardor na cama. Para ela comprarei um cartão e que ela irá guardar em seu criado-mudo, junto aos cartões dos anos interiores que ela lê todos os fins de noite, como me confessou na semana passada. Tomarei um drink no bar do prostíbulo com ela e trocaremos poucas palavras. Depois levarei ela pelas mãos e como um casal de noivos vou carregá-la para entrar no quarto no fim do corredor escuro no segundo andar do sobradinho. Ela irá arrancar as minhas roupas e me jogará na cama. Lembrarei que tenho que lhe entregar o presente, ela passará os olhos pelo cartão colocará ele de lado e me beijará com todo fervor. Olharei o relógio na parede e descobrirei que o encontro será muito rápido; terei que sair para o segundo encontro em três quartos de hora. Chegarei ao orgasmo enquanto ela me prende em suas pernas brancas e sardentas. Vestirei-me e darei um abraço forte dizendo que irei voltar em breve. Aproveitarei e deixarei o dinheiro dentro de seu sutiã enquanto damos o último beijo.

Chegarei à rua e andarei por três quarteirões abaixo próximo ao bar dos estivadores.

Entrarei na casa de strip-tease e me encaminharei até os camarins. Lá estará ela, Eurídice, a deusa negra. Passista de primeira. Ancas largas, seios mínimos. Um doce de mulher, além de excelente cantora. Darei um beijo ardente em sua boca e entregarei a ela um sapato de cristal para ela brilhar na quadra da escola de samba. Ela não vai querer esperar um minuto para subirmos ao quarto. Antes de fazer seu show, ela me dará um particular. Cantará minha música preferida e enquanto eu estiver aplaudindo, cairá nos meus braços e afundará sua cabeça no meu peito dizendo que sentira falta das minhas visitas. Mais trinta minutos de sexo e tenho que sair o mais rápido possível, pois estarei atrasado. Porém ela conseguirá me convencer a tomar uma dose de uísque. O álcool subirá para a cabeça e começarei a andar meio torto.

Olharei o relógio da rua e apressarei meu passo.

Baterei à quitinete de Rosa. Tocarei a campainha insistentemente, pensando que ela deva ter saído por causa do meu atraso. Mas ao terceiro toque ela abrirá a porta, pulará em cima de mim e por causa da minha leve embriaguez quase que vamos os dois ao chão. Ela me puxará até a cozinha e me oferecerá uma batida que ela havia feito. Mais uns goles e direi que preciso tomar uma ducha. Irei ao banheiro e ela virá atrás de mim. Tirarei minha roupa e ela também; ela me abraçará e nós faremos sexo debaixo da água escassa que cai do chuveiro. Depois do banho tomado e dos espasmos molhados andaremos até a sala, nus, e conversaremos até umas 2 da manhã quando decido ir embora. Despeço-me e lembro de entregar as flores que comprei a ela, junto com algum dinheiro.

Pegarei um táxi e voltando repararei nos bares, restaurantes, cinemas e motéis. É certo que verei muitos casais apaixonados com flores, jantando a luz de velas, de mãos dadas, se beijando em bancos de praça e pensarei em quão tolo é isso. Por que fazemos todas essas coisas nesse dia? Por que os outros são diferentes? Uma coisa garanto: o meu com certeza será diferente.

18 junho 2006

Mais um dia...

Mais um dia que acaba. Acordando uma da tarde e com uma fome tremenda. Me lembro que estou sem dinheiro, então acendo o primeiro cigarro do dia e tento esquecer o que virá. Ligo o computador e sinto uma vontade imensa de ligar naquela rádio de internet e coloco músicas daquela banda que aprendi a gostar na terça. As outras pessoas acordam e ligam a TV. Um jogo de futebol pouco interessante passa naquele momento. Eles me dizem para ir almoçar, explico que estou sem dinheiro, mas a fome é tanta que vou usar o cartão com os últimos centavos que me restam. Volto pra casa e me encaminho ao computador para voltar à música que me embala. O jogo termina do jeito que eu não queria. Esse dia vai ser péssimo. Logo em seguida começa o outro jogo, nem me ligo nele, o que me interessa é o clima de alegria na casa. Um amigo chega com cerveja. Tomo uns goles, mas não cai muito bem. Acaba o jogo. Empate. Decido ir ao cinema sozinho. Um filme sempre é bom. Outra infelicidade acontece. O filme é uma droga. Momento de tensão. Encontro alguém que não pretendia encontrar, seus passos tortos me indicam que aquilo não poderia acontecer mesmo. Fico encostado à porta automática para que não feche e aceito o convite. Escada e música, sem dança. Fico pensando em outras coisas enquanto as pessoas conversam. Decido sair dando uma desculpa bem mediocre. Na rua, sedento por um cigarro, recebo uma ligação. Um convinte - sim irei tomar vinho com vocês. Volto pra casa e logo saio. Nesse intertempo, uma coisa me alegra, que bonito casal, penso. Compra galão de vinho e aluga filme. Mais uma ligação. Sinais trocados. Saio de casa depois de dois copos de vinho e antes de começar o filme. Chegando no outro lugar, já com os sentidos mais aguçados, abraços os recém-amigos. Mais filme. Cansei de ver essa encenação e fico prestando atenção em outras coisas. Num tênis. Vermelho! É igual ao meu. Pára de pensar, me diz o consciente. Continue olhando, me diz o inconsciente. Um movimento leve, o ir e o voltar dos pés como num balanço. Último abraço - já vai dormir? Um pouco da música e jogos de computadores. Vou embora - quero dormir! Chego em casa e todos dormindo no sofá enquanto outro filme passa na tela do computador. Todos vão para os quartos e eu fico escrevendo como foi o meu dia enquanto fumo meu último cigarro...

09 junho 2006

Sobre cigarros

fuma, fuma, fuma
prometi que iria parar de fumar,
mas meu cinzeiro está cheio de guimbas.

Flores

a casa estava cheia de flores
você esqueceu de regá-las
e elas morreram

Cansei!

é um daqueles dias fatigantes. tudo dá errado e você queria apenas era ficar deitado no sofá sem mover um músculo. sem dormir, somente ficar ali parado: estado vegetativo. ligar um som que poderia te deixar mais pra baixo e ficar naquele sofrimento reprimido, segurando, até explodir para ver se tudo acaba mais rápido. é uma angustia forte que parece o início da morte. eu como aquele brigadeiro da noite anterior e imagens correm na minha cabeça como um filme. assim eu percebo como fui tolo e cego. gestos e jeitos de falar ressurgem e estes últimos momentos ficam inteligíveis. como você não havia percebido antes? - me pergunto. é melhor deixar tudo para trás e esquecer, seguir rumo e não olhar para os caminhos errados que peguei. mas essa angústia vai deixar marcas; cicatrizes de algo que não deu certo; e o pior, não sei onde é que eu errei! o que faltou? cansei da vida.

01 junho 2006

Ma petite française

Essa é minha homenagem para a francesinha mais querida do mundo que eu conheço!

Miennes souvenirs étaient:
la fummé de ma cigarrete et
vôtre parfum dans ma rêve.
Le vôtre sourire finissait avec la fummé
et le parfum devinait
le odeur de cette tulipes
que vous aimée.