29 março 2006

Como plantar batatas

Quando eu era criança tinha muita curiosidade sobre o que os adultos falavam. Adorava ficar nas suas rodinhas em meio a copos de uísque e cigarros para saber do que eles riam tanto. Muitos deles achavam graça, aquele toco de gente infiltrado naqueles metros de altura. Porém um amigo do meu pai não gostava muito daquela minha intromissão e me mandou plantar batatas. Não entendi direito o que aquilo significava. Na noite seguinte minha mãe estava fazendo batata-frita, o meu prato preferido, e aproveitei uma leve distração dela e tomei aquilo que para mim era um apenas um negócio feio e sem forma. Guardei-a debaixo da minha cama e estava certo que no dia seguinte iria plantá-la. Acordei mais cedo no dia seguinte, meus pais ainda dormiam. O sol ainda não havia saído e com uma pá que usava para fazer castelinhos de areia no parque da praça comecei a abrir um buraco no jardim de casa. Após ter feito uma cova de aproximadamente dois palmos, lembrando que eram dois palmos meus quando criança, coloquei com muito cuidado a batata. Recoloquei a terra e cobri com algumas pedras para disfarçar o montinho de terra que havia aparecido. Busquei a mangueira e reguei o que havia acaba de plantar. Voltei para a cama para que meus pais não percebessem que havia saído de casa. Limpei minhas mãos e fui direto para baixo das cobertas. Mas não consegui dormir tentando pensar no que aquele amigo do meu pai tinha falado. Acabava de plantar batata, mas nada havia mudado. Então pensei que seria preciso esperar o pé de batata crescer. Era muito criança, ainda tinha 6 anos, e não sabia que as batatas não davam em pé como as laranjas, maçãs e amoras. Enquanto passavam os dias ia todos os dias perto da minha batata. Dizia para ela meus segredos e contava-lhe histórias. As que gostava mais eram do sítio do Pica-Pau Amarelo. Imaginava que ela viraria alguém como o Visconde de Sabugosa. Os dias foram passando e chegou a época das chuvas, assim não precisava regar minha pequena batatinha. Porém com as chuvas também ficava mais difícil de conversar com ela. Então chegaram os meses do florescer das plantas. E eu imaginei que seria também a época da minha batata brotar. Mas ela não saiu para me ver brincar nas ruas e rir junto comigo. Comecei a ficar preocupado, pois começara umaa época de muito frio. Imaginava que a batata não aguentaria aquele tempo de bater queixo. Um dia o gramado havia ficado todo coberto de gelo e me deu um medo dela ter virado picolé, como pensava de tudo que era gelado. Ainda bem que o frio não ficou muito tempo em casa. Minha alegria voltara, pois os dias bonitos haviam retornado e agora minha batata teria motivos de sobra para aparecer despontando a terra. Porém já havia passado um ano e nada dela aparecer. Acabava descobrir o motivo pelo qual aquele homem havia me mandado plantar batatas. Preocupado demais com minha plantinha, não ficava mais me metendo na conversa dos adultos. Porém antes de me desanimar abri o buraco. Minha surpresa foi imensa. Havia um monte de batatas dentro da terra! Chamei minha mãe e disse o que havia feito. Ela ficou rindo sem parar enquanto contava tudo. Ela deu uma idéia sensacional, disse para fazer batatas-fritas no jantar com elas. Sem dúvida que aceitei! E desde aquele dia penso que o querem dizer com "vá plantar batatas" não é o que realmente pensam e sim uma coisa muito diferente. No mesmo dia em que me empanturrei de batatas, aproveitei para roubar mais uma e fazer tudo de novo como naquele ano que havia passado.

8 comentários:

Anônimo disse...

batatinha quando nasce se esparrama pelo chão, o cauê quando dorme põe a mão no coração.

Anônimo disse...

brigado...

Anônimo disse...

hah
fofíssimo =*

um dia, um menino que freqüenta a minha casa, com os seus 5 anos, perguntou à minha mãe o que era aquilo que ele tinha pego da rua. era um negócio cheio de sementinhas dentro e minha mãe falou "é cocô de passarinho". ele não contestou e saiu pensativo.
fiquei pensando.. isso não se faz.

tem que se pensar bem quando falar algo a uma criança. pelo menos as tuas batatas renderam coisas boas. mas e o cocô de passarinho? =P

tem coisas que só nos dias de hoje eu tenho descoberto que são mentiras. coisas bobas, mas que eu nunca esqueci.
realmente não gosto que tenham feito isso comigo, pois até hoje não aprendi com essas mentiras nem tirei algo de bom.

=P

- cauê quando dorme põe a mão no coração? haha =)

Anônimo disse...

as batatas eram acompanhas de um belo bife?


PS: muito bom o conto!

carricas disse...

a infancia ilumina mesmo...

Unidos na Diversidade disse...

mas que belo texto... adorei


Eu mesmo vou plantar batatas esta noite! Mas num vaso em lisboa!

um abraço

Hugo

Anônimo disse...

Jesus disse: deixai vir a mim as crianças, pois das tais é o reino dos
Céus. Mateus 19,4

Quando li sua história lembrei-me do que Jesus falou no versículo acima.
A atitude de uma criança inocente é algo muito especial. Mas, alguns adultos dizem que crianças só faz o que não presta, creio que isso deixa muitas crianças tristes.
Ronaldo
rgfarias2005@hotmail.com

Anônimo disse...

ai cara q loca esse conto tipo vc fez mesmo isso ???? pow mas e show queria t conhecer vc deve ser , no minimo, interessant .Gostei !