19 agosto 2006

ela e eu

eu: oi, posso me sentar?
ela: pode, né! como eu iria impedir.
eu: desculpa é que eu...
ela: você quer o quê?
eu: não eu estava pensando...
ela: de pensar demais morreu o burro.
eu: não. o que tenho para falar é simples.
ela: então desembucha homem!
eu: é que é simples, mas difícil de falar.
ela: quebra essa sua barreira, porque estou ficando curiosa.
eu: mas é que...
ela: pode falar, as pedras que estavam nas minhas mãos já estão nos rios.
eu: pô, é que faz tanto tempo que a gente não se fala direito, né? que eu perdi tino.
ela: mas foi você quem fez a cagada e acabou optando por se distanciar.
eu: eu sei, eu sei. mas me arrependi, fui muito infantil e tolo.
ela: ainda bem que não és burro!
eu: obrigado, porém me considero muito burro. me distanciei e perdi você de vista.
ela: pode continuar falando, sou ouvidos, somente.
eu: parece que criou-se uma barreira intrnsponível. sei não, parecia uma força que me impedia de me aproximar de ti.
ela: ............
eu: não sabe como você me faz falta. sei que nunca fui seu, mas volta. volta pro convívio meu que com você mais perto me sinto muito melhor.
ela: ...............................
eu: se não acredita no que falo, me dá um sinal, já que está atônita. um sinal teu é o que quero. um olhar, um suspiro, um tocar as mãos rapidamente, um beijo, quem sabe?
ela: aaaaaaaaaaaaai!
eu: eu gosto muito de você, amor!
ela: agora voltei pra ti, meu bem!

peço que voltes

ai, amor! não dá mais
é tanta distância que a gente mantém
parece um muro no ar,
alguma tensão, sei lá

vamos deixar pra lá
tudo mudou
voltas? então vem, por favor
não sabes a falta que você me faz

é difícil ter que te ver
e assim como um poste:
ter que ficar parado, gelado
volta, volta que ainda tens meu coração

p.s.- antes que me esqueça, isso não é uma poesia

16 agosto 2006

sábado de deus e de música

Acordar cedo aos sábados pode parecer um saco. Para mim às vezes. Às vezes porque todo mês escolho um sábado para limpar meus discos de vinil. E como é gostoso... Limpar discos velhos, de músicas velhas, todos empoeirados e até alguns riscados, isso é diversão? Respondo que sim. No dia que deus escolheu para descansar, escolhi o dia de me satisfazer. Não é só limpar os discos a tarefa de sábado. A limpa-los tenho que ouvi-los imediatamente. E como é gostoso guardar esse dia aos meus ouvidos.

Começo pelos de rock. Pra acordar mesmo! Som no talo: Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan... Espírito livre, espírito rock´n´roll flui pelo apartamento. E não somente a fase de loucos cabeludos, também tem a fase certinha do rock. Porque os Beatles também foram certinhos uma vez antes de conhecerem o mundo e acabaram saindo da roupagem alinhada. Que para não desmerecer gosto muito também.

Depois do bom e velho rock´n´roll importado venho me deliciar ao passar a flanela nos discos nacionais. Mutantes é o que toca. Psicodelia de sexo, drogas e muito som. Não se faz mais música como antigamente. Onde foi parar o espírito das guitarras distorcidas? Com certeza ficou em alguma estante de sebo. Depois de Mutantes, ataco com o disco Tropicália ou Panis et circencis. Que maravilha! Som de primeira, único, revolucionário, antropofágico. Caetano, Gil, Nara, Gal, Bethânia, Rita e os irmãos Baptistas, Duprat, Tom (o Zé, para que ninguém confunda com o maestro) e Torquato destruíram tudo e refizeram uma música com uma identidade multifacetada. Engoliram tudo que existia e desse alimento junto com o excremento fizeram arte, fizeram música.

Porém não podemos jogar fora o que foi feito antes e depois do movimento tropicalista. Então dou um salto para o passado. Para ser mais preciso nos primeiros anos do século. Chego a um Rio de Janeiro se modernizando e com o nascimento do samba. Noel Rosa. Não é preciso muito para falar desse compositor. Um homem que viveu até os vinte e poucos anos e produziu um número imenso de obras musicais que são maravilhosas! Mas também não posso esquecer de falar do maestro Pixinguinha. Como parece que esse homem foi um cara tão doce. E porque adoro Vinicius de Moraes e ao vê-lo dizer que Pixinguinha foi o ser – humano mais adorável que ele havia conhecido, eu fiquei ainda mais com essa impressão. Além da música clássica brasileira com o maestro Heitor Villa-Lobos. Ele, que foi responsável por levar à cabo o modernismo à música, escreveu peças fantásticas que mexem, não sei como, comigo. Música bonita e majestosa essa do começo do século, viu?

Mas como a grana é curta e o conhecimento musical não é tão vasto como muitos pensam, pulo para o ano de 1958, ano de nascimento da bossa-nova. Ouvir o maestro Brasileiro, o poetinha e o violão atonal do Joãozinho. Inovador, poético, banal. Esse espírito da bossa-nova é incrível. Quando ouço imagino o Rio de Janeiro, não mais como aquele de Noel e Pixinguinha, mas um Rio dos bares e da boêmia. E aí, nesse embalo, chega o mestre (me desculpem a babação). Sim ele mesmo, Chico Buarque de Holanda. Foi através dele que comecei a voltar no tempo da música. Foi através dele que conheci a verdadeira música brasileira. Depois dele vieram as paixões musicais. Mulheres com quem me casaria sem elas me conhecerem. Nara Leão, Gal Costa, Elis Regina. Que vozes!

Quando percebo a noite já caiu e todos os discos foram limpos e ouvidos. No dia em que deus descansou, fiz uma viagem pela música. Como num desfile de sentidos, além de ouvir, senti os gostos, enxerguei, toquei, cheirei e senti (mais do que tudo senti) a música pelo meu corpo.

04 agosto 2006

whisky

com o copo de uísque e um cigarro nas mãos, sentado na poltrona amarela, com as luzes apagadas e somente o abajur vermelho e a vitrola ligadas. são os sons da noite que me acompanham, já que você quis ir embora. dói, mas passa, porque o que gosto mesmo é me queimar. porque quem não se queima não tem o que dizer, não dói e não sente.

foi como você, preocupada em se cortar e ferir-se, fugiu, voou, escafedeu-se. não temas era o que te dizia, mas nem ouvidos e bocas você me dava. era nada. só repetições de cenas boas na cabeça.

mas agora é fim, você se foi e eu fiquei. voa que é o que precisas. se consegues voar até sem sair do chão, acho que é o melhor que você tem que fazer. não é somente um questão de ficar mais leve que o céu.

voa para o norte, já que a aqui no sul o frio chegou. e pra esquentar só o whisky.

03 agosto 2006

se não respondes...

se não respondes deixo por aí
acabo com a ficção. a vida é bela, o sol, a estrada amarela. existe outro sonho para se sonhar. falas mal, mas acaba voltando. sabe aquele neruda que você me tomou, devolve. falta poesia, falta razão. te bate te esconjuro te mato. não és mais nada. (confusão de conjugação). arremate, farpa, frases recortadas de músicas. nada explica, nem freud, nem deus, nem nada.

pára com a brincadeira, gato-rato, esconde-esconde. já tentei te pegar, já tentei fugir. mas essa brincadeira não tem fim. brincadeira de pular e contar o tempo. vamos brincar? já era! era é coisa passada. podemos ainda brincar de mentira, que não é ficção [cê e cedilha+cê]. . continua vazio sem pudores...

poesia nua de todo dia. tarde de sábado, quando todos os maridos funcionam regularmente.

até que o apito da fábrica de tecidos vem me acordar dos delírios.

beijo, abraço e até!